sábado, 1 de janeiro de 2011

Recrutamentos para o Censos tresandam a trafulhice ou a História dum Sapo



O Ano velho já lá vai  e este 2010 que agora terminou deixou-me na sua parte final um sapo para engolir, resultado duma situação daquelas que se consta ser comum,  mas que por experiência própria nunca tinha provado o seu amargo sabor.

Felizmente, a vida permite-me uma disponibilidade para apenas me dedicar ou candidatar a projectos que me motivem e dentro da experiência que até aqui adquiri julgar poder ter uma boa prestação. Nessa base,  candidatei-me a Delegado Regional e Delegado Municipal do Censos 2011.

Aparentemente seria uma função que exigiria experiência e competências ao nível:

. de chefia, que tenho;
. de coordenação, que tenho;
. de planeamento, que tenho;
. de recrutamento, que tenho;
. de informática, que tenho;
. de conhecimentos cartográficos, que tenho;
. de formação, que tenho;
. de disponibilidade total, que tenho;
. de perfil expedito, que julgo ser;
. de perfil comunicativo, que julgo ser;
. de perfil sociável, que julgo ser;

Em suma, parecia-me ter tudo para encaixar que nem uma luva no que era exigido ... mas afinal não tinha, afinal faltava-me o principal.

Ultrapassada a avaliação curricular, fui convocado para uma entrevista de grupo, onde foi avançado um pouco mais do que nos esperava, que somado à avaliação que fiz da concorrência, que me pareceu ser fraca, me deixou confesso entusiasmado.

Assim, foi com naturalidade que encarei ser chamado a Lisboa ao Instituto Nacional de Estatística, agora para uma entrevista individual onde julgo não ter comprometido, mas donde saí perplexo com o que ouvi, fazendo logo nessa data menção disso na minha página do Facebook, sem obviamente mencionar a Instituição e o que estava em causa.

E o que me deixou perplexo, foi ouvir e ficar a saber que para o exercíco de funções numa instituição pública, cujo preenchimento é efectuado através de um processo de selecção por concurso público dessa instituição, haja o direito de veto por parte das câmaras municipais, cujo processo de selecção lhes passa ao lado na totalidade ... e quando o candidato pré-seleccionado "não é da côr" (que até era o caso), pode ser uma chatice.

E ainda não estava recomposto do que tinha acabado de ouvir, já me estavam a informar que muitos dos srs. Presidentes de Câmara por este país fora, quando o INE lhes apresenta o resultado da sua selecção, estes dizem que "têm um melhor" ... ao que os responsáveis do INE se acobardam por forma a evitar melindres, facto humanamente compreensível uma vez que é necessária a colaboração das autarquias para levar por diante a sua empreitada e o melhor mesmo é não haver chatices.

A esta apetência dos srs. Presidentes de Câmara por este assunto, não é estranho o facto na sua lógica de manutenção no poder, terem a possibilidade de distribuir mais uns rebuçaditos pela malta amiga, que no caso são os recenseadores que nos vêm bater à porta ... o perfil para a função, logo se vê que "aquilo é só tocar à campainha e entregar uns papéis".

Pois bem, se em relação ao preenchimento dos lugares para Delegados Regionais e apesar ter sido aberto concurso, pareceu-me correcta a opção da Instituição recorrer, estando disponíveis, a pessoas com quem já trabalharam e que demonstraram um desempenho positivo ... já no que diz respeito ao lugar para Delegado Municipal do Entroncamento, a coisa cheira-me muito a esturro.

É que soprou-me um passarinho ao ouvido que o que sobressaiu no curriculum do "candidato seleccionado" foi uma cartinha de recomendação do sr. Presidente da Câmara conjugada com a oportuna existência dum familiar do candidato dentro do próprio INE ... e a ser verdade, era isto que me faltava, faltava-me o principal: "A CUNHA". 

E srs do INE ... se por acaso a vossa escolha recaiu sobre um sr. que estou  para aqui a pensar, referem-se a ele aqui no Entroncamento nos seguintes termos: "... que sensibilidade tem para lidar com pessoas? - nenhuma, nunca soube lidar com pessoas esse senhor.", ou então "...não respeita funcionários ...", ou "... Ameançando todos ...", ou "...julga-se superior, não quer saber ...", ou " ... Que qualificações têm esse senhor ... Na minha opinião nenhuma..." ... e atenção ... não sou eu que o digo, procurem na Net que encontram estas citações.

E já agora, ainda para V.Exas. do INE, sabendo-se à partida qual é o resultado final, para a próxima podem abrir concurso na mesma, mas não chamem ninguém sff, é menos maçada para todos.

Dito isto meus amigos, quando em Março, do Algarve ao Minho, vos tocarem à campainha para entrega do questionário do Censos, há grandes probabilidades da pessoa que está à vossa frente ter sido escolhida apenas porque é da côr do Presidente da Câmara e se ela não souber responder convenientemente às suas dúvidas, então é quase de certeza. E ao olharem para ela, lembrem-se que também o chefe dela está no cargo graças a esse apetrecho fundamental que é a cunha. E se depois der bronca, como deu à 10 anos no Entroncamento, com o caricato do Presidente da Câmara na altura a pretender repetir o Censos ... não estranhem, é apenas mais uma factura deste triste fado do compadrio que existe em Portugal, cujos exemplos infelizmente são mais que muitos, mas

TEM DE HAVER ESPERANÇA, TEM DE HAVER FUTURO!



    


14 comentários:

  1. Pois é, amigo Paulo.
    Como já tivemos ocasião de comentar pessoalmente, é mais uma "farpa" de sabor bem queirosiano.
    Assim, aproveitemos para lembrar, reverentemente, as sábias palavras do Almada:
    "Há, sim senhor!
    Há um Portugal sério, um Portugal que trabalha, que estuda; curioso, atento e honrado! Há um Portugal verdadeiro que não perde o seu tempo com inimigos fantásticos e cujo único desejo é apenas e grandemente ser Ele próprio! Há um Portugal, o único que deve haver e que afinal é o único que não anda por causa dos vários Portugais inventados de todos os lados de Portugal! Há um Portugal profissionalista, civil e insubornável! Há, sim senhores! Mas entretanto…
    Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E numa terra de manhosos não se pode chegar senão a falsos prestígios. É o que há mais agora por aí em Portugal: os falsos prestígios. E vai-se dizer de quem é a culpa de haver manhosos e falsos prestígios: a culpa é nossa, e só nossa!"
    (Almada Negreiros (1933); Obras Completas: Textos de Intervenção. Vol. VI, p.97).

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Amigo João,

    Apenas para dizer, que essas palavras de Almada Negreiro são o epílogo perfeito para a trágico-comédia em que o país está mergulhado.

    Um Abraço e Bom Ano

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  4. Poi é amigo Paulo,se tivermos o cuidado de observar, verificamos que os filhos dos políticos (da esquerda à direita ) todos têm emprego e quando sobra é para os amigos. É preciso ter coragem para assistir a tudo isto,
    Um abraço.
    Manel

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  5. Amigo Manuel,

    Na verdade o meu amigo, não anda muito longe da verdade e se para certas funções o seu preenchimento seja efectuado por critérios confiança política, desde que não estejam em causa problemas de competência, entendo como aceitável.

    É no minímo abjecto, quando as aberturas de concursos são meros pró-forma e não podemos encarar isso com um encolher de ombros, como se de uma coisa inquestionável se tratasse, a nossa sociedade tem de evoluir e de começar a olhar para estas pessoas com censura social ao ponto que abstenham de o fazer, porque isto não são casos isolados e os resultados estão bem à vista, pelo ponto a que Portugal chegou em geral.

    Cumps

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  6. Só posso escrever: "para variar"!!
    (e fica óbvio o principal motivo porque nem sequer fui chamada...:)) )

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  7. O google amigo,

    Pesquisei porque realmente estranho esta situação dos delegados municipais. Também concorri e aparentemente na minha zona até seria um bom candidato. Até ao momento não houve contacto e creio que a esta altura não haverá, jamais. Não sei se o problema será porque estou desempregado? ah, mas eles querem disponibilidade total, até aos Domingos. =)
    Sei bem que as CMunicipais têm que nomear alguém dentro para trabalhar com alguém de fora (funcionário/ colaborador do INE). Ou seja, um Delegado Municipal designado pela CM e outro pelo INE. Dois, mas no meio desta trapalhada imagino que fiquem por um, dois em um ou então eles designem algum amigo muito próximo que posteriormente será recomendado ao INE.

    Certamente, haverá mais casos de um despotismo encoberto que se imaginava coisa do passado.

    cumprimentos,

    Luís

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  8. Caro Luís,

    O processo de selecção é simples, o INE procede ao recrutamento dos Delegados Municipais ... mas as Câmaras têm direito de veto, é só um elemento e que acaba por ser "aquele amigo próximo".

    Aqui, já me soprou um passarinho ao ouvido que o Delegado até tem assessor ... salvo erro, coisa inédita para a função, mas não na colocação de amigos.

    É o que temos!

    Cumps

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  9. Boa Tarde. Concorri como recenseadora aos Censos 2011 na minha freguesia. Li o seu depoimento com muita atenção e realmente é lamentável que o factor "C" interfira até nos procedimentos deste tipo.

    Julgo que possuo os requisitos exigidos para a função a que me propus, o meu medo é que aconteça exactamente o mesmo que aconteceu consigo, porque mesmo para a função de recenseadores a Câmara Municipal pede o parecer do Presidente da Junta de Freguesia, em relação aos candidatos. Ora, o que tem vindo a acontecer é que são sempre as mesmas pessoas (familiares do dito presidente) a realizar estas actividades.

    É triste que tenhamos que nos confrontar com este tipo de situações... É triste que ano após ano sejam sempre os mesmos a querer ganhar mais uns "trocos"...

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  10. Cara Anónima,

    Penso que ficou claro no meu artigo que em termos gerais a apetência dos srs presidentes de câmara em apadrinhar os Delegados Municipais visa distribuir uns "rebuçaditos" pela malta amiga, mas deixe lá ... consta que quem for recrutado vai ter alguma dificuldade em receber o pagamento pela prestação do serviço.

    Cumps

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  11. Olá Paulo
    Tal como tantos que comentaram o seu blogue e sentiram o que o Sr sentiu, também eu passei pela mesma situação na entrevista para delegados municipais/regionais ficando também com a ideia de ter feito uma boa entrevista, mas claro está, que até hoje nunca mais me disseram nada. Posteriormente candidatei-me para a função de recenseador, e qual é o meu espanto quando vou tentar saber o porquê de ainda não ter sido contactada. Dirijo-me ao gabinete dos Census 2011, aqui na minha cidade, que fica na Beira, onde fui informada que não conto da base de dados pois fui exluida por falta de habilitações. Vejam só isto, dá que pensar..........
    Como o Paulo diz

    Há que ter esperança......

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  12. Pois é, cara anónima, parece que somos muitos e se multiplicarmos por concursos semelhantes que existem aqui e ali, não admira que as coisas estejam com estão.

    Por estes dias, soube de outra nomeação dum Delegado Municipal daqui perto e ... fiquei espantado, é incrível e nem comento.

    Quanto ao seu caso, quer-me parecer que foi enganada em duplicado, como era uma função sem interesse para as motivações pessoais, não cheguei a concorrer para recenseador, mas na entrevista de grupo, a psicóloga que moderou a entrevista canalizou logo pessoal para recensador ... e era tudo pessoal licenciado, donde deduzo que nem dá muito que pensar, "chutaram-lhe" esse argumento que o pessoal licenciado está habituado a ouvir, para a despachar.

    Enfim, é infelizmente o que temos ... mas será que esta pôrra não muda?

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  13. Tem que haver esperança, tem que haver futuro???? A esperança única, é que se esqueçam de vez da regionalização, pois se ela for em frente, o tachismo generalizar-se-há. E o futuro? O Futuro, é bem provável que a prazo se pegue tudo à estalada, para ver se acabamos de vez com estas poucas vergonhas.

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  14. Caro República dos Bananas,

    Se o pessoal se pegar à estalada, é porque, revoltado com o presente quer um futuro melhor, sendo esse tipo de movimentação uma exteriorização de forma activa e violenta duma esperança até aqui pacífica e passiva.

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